CPI do INSS ouve depoimento de suspeito de ser o operador de desvios bilionários em aposentadorias e pensões
25/09/2025
(Foto: Reprodução) CPI do INSS ouve depoimento de suspeito de operar desvios bilionários em aposentadorias
A CPI do INSS ouviu nesta quinta-feira (25) o depoimento do suspeito de ser o operador de desvios bilionários em aposentadorias e pensões.
Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, chegou ao Senado sob forte escolta policial. A Polícia Federal afirma que ele é um dos maiores operadores financeiros do esquema de descontos ilegais em benefícios de aposentados e pensionistas do INSS. Ele está preso desde o último dia 12, suspeito de atrapalhar as investigações e por risco de fuga. Como Antônio Carlos Antunes é investigado, não tinha a obrigação de falar a verdade na CPMI.
Segundo a PF, Antônio Carlos Antunes pagou mais de R$ 9 milhões de propina a funcionários do INSS para ter acesso a informações do cadastro de aposentados e pensionistas. Essas informações eram repassadas a associações que descontavam valores dos benefícios de forma fraudulenta. Depois, o dinheiro era repassado para empresas de Antônio Carlos Antunes. Com o empresário, a Polícia Federal apreendeu, entre outras coisas, 14 carros de luxo - avaliados em R$ 6 milhões. Ao todo, o esquema desviou mais de R$ 6 bilhões.
Na comissão, Antônio Carlos se recusou a responder às perguntas do relator:
“O relator já me julgou e condenou sem sequer me ouvir. Por isso, não responderei às perguntas de Vossa Excelência”.
Mas o relator, o deputado Alfredo Gaspar, fez questão de falar:
“Está presente aqui o autor do maior roubo aos aposentados e pensionistas da história do Brasil”, afirmou o deputado Alfredo Gaspar, União–AL.
As afirmações do relator irritaram o advogado de Antônio Carlos, e a sessão acabou virando um bate-boca. A sessão foi suspensa por três minutos e, depois, retomada.
CPI do INSS ouve depoimento de suspeito de ser o operador de desvios bilionários em aposentadorias e pensões
Jornal Nacional/ Reprodução
Durante quase uma hora, o relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar, fez várias perguntas ao investigado sobre o esquema de descontos ilegais em aposentadorias e pensões do INSS, mas Antônio Carlos Camilo Antunes não respondeu a nenhuma delas. Permaneceu calado o tempo todo.
O relator mostrou uma foto de Antônio Carlos em uma reunião com o atual ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz. Na ocasião, em janeiro de 2023, Queiroz era secretário-executivo da pasta.
"Com 13 dias de governo, em um planejamento de trabalho, só tinha uma única pessoa que não era do Ministério da Previdência Social, era justamente o senhor. Quem deu autorização para um quadrilheiro sentar na mesa da Previdência Social?", perguntou Alfredo Gaspar.
O investigado respondeu a perguntas de outros parlamentares. Negou ter pagado propinas a servidores ou que suas empresas participaram do esquema de descontos indevidos, e disse que prestava serviços às associações que hoje são investigadas, segundo ele, por causa da dificuldade das entidades em usar o sistema eletrônico do governo federal:
“Quando soube desse mundo de oportunidades de grandes associações com grande quantidade de associados, bati à porta de cada uma delas, oferecendo meu pacote de serviço”.
Sobre a foto com o hoje ministro da Previdência, Wolney Queiroz, Antônio Carlos Antunes disse que estava na reunião por educação e que tinha ido ao ministério encontrar um amigo.
O presidente da comissão disse que os envolvidos no esquema buscavam dar uma aparência de legalidade aos recursos desviados:
“Não estamos tratando com amadores. Nós estamos lidando com pessoas que têm somas bilionárias nas contas, escritórios de contabilidade caríssimos que ajudaram a maquiar todas as operações, escritórios de advocacia que também orientaram dentro da legislação para que tudo aquilo que aconteceu - o desvio de dinheiro dos aposentados brasileiros - pudesse ter uma aparência de legalidade”, afirma o senador Carlos Viana, Podemos–MG, presidente da CPMI.
O Ministério da Previdência declarou que participaram da reunião técnicos do ministério e do INSS nomeados ainda no governo Bolsonaro — o que demonstra o caráter institucional do encontro; que Antônio Carlos Antunes se apresentou como consultor e não fez uso da palavra; que, na época, nenhum dos participantes era investigado ou suspeito de irregularidade; e que é inaceitável insinuar que o ministro Wolney Queiroz tenha relação com os investigados.
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